Tecnologia, natureza e cidadania. Estas palavras se fundem num projeto que visa a preservar a Floresta da Tijuca e as matas do Maciço da Pedra Branca. Trata-se de um programa de monitoramento por satélite da cobertura vegetal da mata, concebido por pesquisadores da PUC do Rio. As imagens capturadas vão servir para acompanhar eventuais avanços da ocupação urbana sobre o verde. E, o melhor, o projeto prevê a participação popular, via internet: internautas terão acesso em tempo real ao monitoramento, poderão fazer denúncias sobre desmatamento e acrescentar informações num mapa interativo que estará disponível na web.
"É como no Google Earth, onde os internautas podem acrescentar informações sobre a região onde moram. A gente quer dar ferramentas para a população, para que a sociedade assuma um papel maior na gestão da floresta e, por consequência, da cidade", diz o coordenador do projeto, o geógrafo Luiz Felipe Guanaes Rego, da PUC carioca.
Mapa interativo - Quer dizer, o internauta vai poder não só verificar (e fiscalizar) onde estão ocorrendo as agressões à floresta. No mapa interativo, ele poderá acrescentar informações sobre desmatamentos, denunciar alguma ocupação irregular e se manifestar através de um texto que ficará incorporado ao mapa.
O internauta terá opção de enviar e-mail para autoridades, cobrando ações e fazendo denúncias – neste projeto, há uma parceria com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que encomendou o serviço.
"Além disso, os dados coletados pelo satélite e acrescentados no mapa interativo poderão servir de prova jurídica para o cidadão entrar com uma ação no Ministério Público. Uma vez que ele poderá imprimir os relatórios gerados pelo programa", diz Luiz Felipe.
O geógrafo comenta que a sociedade contemporânea, com o boom da tecnologia digital, vive um momento único no que se refere à representação do espaço.
"Quase todo mundo já viu sua casa no Google Earth. O entendimento do espaço geográfico está mudando. Daí, a importância do nosso sistema. Tendo a informação de onde a Floresta da Tijuca está sendo destruída, o cidadão pode intervir diretamente. Queremos estimular esta participação, esta pressão social", diz o geógrafo.
Outro ponto que Luiz Felipe destaca é o ineditismo do projeto, desenvolvido pelo Nima (Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio).
"Existe uma deficiência no monitoramento da Mata Atlântica. O Inpe, por exemplo, monitora a Amazônia. Mas as características dos dois ecossistemas são diferentes. A Amazônia é plana e tem baixa densidade habitacional. Já a Mata Atlântica, a exemplo da própria Floresta da Tijuca, tem relevo montanhoso e está cercada da presença de cidades. Cerca de 80% da população brasileira vive no que restou deste ecossistema", diz.
O projeto da PUC carioca, chamado oficialmente de Programa Integrado de Monitoria Remota de Fragmentos Florestais e de Crescimento Urbano no Rio de Janeiro (Pimar), utiliza registros fotográficos de satélite, captados de seis em seis meses. Estas fotos serão comparadas, para mostrar se e onde ocorreu desmatamento.
Mas a diferença é que os pesquisadores criaram um programa de computador que fará esta comparação automaticamente. Como numa espécie de laudo científico.
Tecnologia de ponta - "Estamos lidando com uma tecnologia de ponta. Só a PUC detém o conhecimento desta classificação automática de imagens", diz Luiz Felipe.
A parte estritamente tecnológica do projeto é feita por pesquisadores de outras especialidades, como o engenheiro Raul Feitosa, coordenador técnico do Pimar. Segundo ele, o satélite americano Ikonos fornece imagens em alta resolução.
Segundo ele, além do mapeamento feito com as ferramentas tecnológicas, haverá um posterior trabalho de campo:
"Após o levantamento fotográfico e as interpretações tanto automáticas quanto por parte de nossa equipe, será feito um trabalho de campo para validar o método e determinar possíveis erros de medida", diz Feitosa.
O projeto é fruto de mais de dez anos de pesquisa e vai servir como piloto para monitoramento da Mata Atlântica em outras cidades do país. Segundo os pesquisadores, o sistema estará disponível para o cidadão intervir possivelmente este ano. Mas ele pode ter uma prévia acessando o endereço http://www.nima.puc-rio.br/sobre_nima/projetos/pimar/index.php. (Fonte: Marcelo Gigliotti/ Jornal do Brasil)
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